Os placares gigantes na sala de embarque indicavam: voo 513 de Nova Iorque para Washington – hora prevista: 07 AM.
Suspirei de alivio, estava com receio que o avião se tivesse atrasado:
- Passageiros do voo 513; Nova Iorque para Washington dirijam-se à porta de embarque – soou uma voz feminina na sala.
O avião já esperava na respectiva pista com os motores a ronronar como quem aquece as engrenagens para levantar voo. O pequeno autocarro que me transportavam da gare do aeroporto até à pista do meu avião, ia praticamente vazio. Eu, um casal de namorados italianos enrolados no fundo do autocarro, uma família norte-americana com cinco filhos pequenos que faziam um chinfrim maior que o som dos motores dos aviões e um homem nos seus 25 anos, mulato e de olhos azuis, vestido com um fato escuro que lhe dava uma imagem formal mas sensual ao mesmo tempo, lia o jornal como se não se importasse com nada que passava à sua volta.
O autocarro fez um solavanco e parou em frente da escada de entrada do avião, fui a penúltima a entrar no avião, atrás de mim vinha o homem de 25 anos; vinha tão perto que até arrepiava a minha pele nua dos braços, conseguia sentir a sua respiração quente no meu ombro direito.
Uma hospedeira loira com o cabelo bem besuntado num carrapito no alto da cabeça guiou-me ao meu lugar, na cauda do avião. Sempre fui baixinha e sem muita força para grandes esforços, e colocar a minha mala de mão ainda bastante pesada devido ao peso do portátil e dos meus livros na bagageira por cima dos bancos ainda era um desafio complicado.
Senti o peso do amarelo da mala a esmagar o peso do meu corpo contra o chão do corredor do avião, senti uma mão forte a puxar o peso da mala de cima do meu peso e depois a contrariar o meu peso da gravidade, levantando-me do chão.
Compus a saia e a blusa e virei-me ainda vermelha pelo espectáculo que tinha dado para o avião inteiro, mas todos pareciam entretidos em arrumar as suas próprias malas e apenas a cara do homem de 25 anos olhava para mim.
Pareceu-me ainda mais bonito ali, debaixo das luzes eléctricas do corredor do avião, do que no escuro e solavancos do autocarro; os olhos azuis sobressaiam do escuro achocolatado da pele.
Ouvi lá bem no fundo da minha cabeça a voz dele ecoar:
- A senhora está bem?
Sei que acenei que sim com a cabeça mas a minha atenção não estava naquele dialogo mas no poder magnetizante daquele homem; parecia que puxava com toda a forma o peso do meu corpo de encontro ao peso do corpo dele. Estendeu-me a mão e disse:
- Jonh, Marschal do Ar - eu ainda a tremer do susto e da emoção da presença daquele homem estendi a minha e apertei o mais firmemente que consegui:
- Andreia Freitas
- É portuguesa?
- Sim, os meus pais são de Lisboa e vieram para Nova Iorque quando era pequena; mas não sei falar em português se é isso que me vai pedir.
- Não de forma alguma, apenas acho as portuguesas particularmente bonitas.
O sinal luminoso de apertar o cinto acendeu e as hospedeiras começaram a preparar os passageiros para a descolagem, ele despediu-se e sentou-se no seu lugar cerca de 4 filas à frente da minha. Sentei-me, apertei o cinto, respirei fundo e concentrei-me ao máximo para conseguir parar de tremer as pernas.
Quando o avião descolou e o sinal dos cintos se apagou, levantei-me para ir à casa de banho no fundo do avião; ficava num pequeno recanto escondido e tapado por uma esquina pronunciada. Senti de novo o bafo quente no meu pescoço, agarrou-me pelos ombros e encostou-me à porta da casa de banho. Beijou-me lentamente enquanto me acariciava o cabelo, segredou-me ao ouvido que era a portuguesa mais bonita que alguma vez tinha visto.
A mão dele não tinha descanso, conhecia-me o corpo desde de sempre. Sabia os pontos que me faziam tremer, querer mais; puxei-o para mais perto de mim, para sentir o bafo quente. Ele abriu a porta da casa de banho e desta vez não me empurrou, eu deixei-me ir até os nossos corpos ficarem totalmente colados dentro daquele cubículo pequeno. Mesmo que não nos quiséssemos tocar, não podíamos; a língua dele entrava na minha e a minha respiração na dele.
Fechou a porta atrás de si e trancou-a com o sinal de ocupado…
post criptum: sonhei mesmo isto